terça-feira, 11 de setembro de 2007

BIBELÔ CRISTALIZADO


Andava triste, removendo os baús insanos das épocas adoraveis de colégio, lembrei-me dos grandes bailes de debutantes, todo glamour daqueles tempos, onde marcávamos tudo com meses de antescedência, costureira, maquiagem, cabeleireiro, o sapateiro forrava o sapato amaciado e velho, com o mesmo pano do vestido bordado. Nada podia sair errado, íamos ser apresentadas a sociedade da cidade interiorâna, onde tudo era separado por castas, elites gastas, pelas damas madrastas, dos pobres e desvalidos,que não tinham roupas nem lindos vestidos longos. Tafetá importado, cristais svarovisk, brilhantes, todas tinham seus amantes, podre sociedade errante, das plumas e pérolas negras, tão negras quanto suas vidas.
A orquestra, vinda de SÃO PAULO, é claro, anunciava a nossa entrada ao som de GLENN MÜLLER, enquanto os garotos bobos, vestidos em seus fraques de tecido inglês, sapatos de cromo alemão, estendiam as mãos , e anciosos, sua debutante, esperavam, em circulo, ladeando o salão, pareciam mais urubus, doque galãs do filme SEX IN THE CITY. Cabelos a lá Elvys, cravo branco na lapela, tinha de ser branco, era tradição, afinal, éramos as virgens dos olhos de mel, e lábios de Ginna Lolobrigida, e aquelas mulheres , com certeza frígidas, com os maridos ,lógico, nos olhando com tanta inveja, que se pudessem, ali mesmo, nosso lugar ocupariam, só pra no jornal de domingo, estamparem suas figuras bizarras, que marra!
Tudo devidamente orquestrado, garçons por todos os lados, bebidas e comida a rôdo, e os homens embriagados, cantando as mocinhas , bobinhas a procura de um coroa estabilizado, que as custeassem os gastos, ao menos a voltinha nos carros blindados, já estava de bom grado. Era a porteira se abrindo ao gado. E o grande rio imáginario passando, meus sonhos levando, me trazendo pro hoje, diziam os antigos, já traçado. Rindo agora desvairada, vi que, tinha eu mesma, mudado o curso do grande rio, em doce cristal, pelo vinho tinto molhado, perfumado, tão doce quanto o rio imaginario, havia eu me transformado. Musa de todas as estações, bailando agora nos corações apaixonados. A música que tocava no velho rádio desafinado, é no tempo, hoje, meu DVD com tóca CD, surround ligado, de som equalizado, digitalizado.Nem violinos, nem pianos de caudas, lindos, encerados, nem violoncelos e bongôs. Guardo até aqui, deste tempo passado, um bibelô cristalizado, no canto do ármario, pelos dias, empoeirado. Acabou o baile e o bailado, as castas continuam gastas, a elite dominante desprendeu a ser debutante, sobraram sómente as amantes. Quem sou eu?

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